O futebol vive de hipóteses. E a pequena frase "e se..." é constantemente repetida por torcedores, jornalistas, jogadores, ou qualquer um ligado ao mundo da bola. Um pênalti perdido que poderia ter entrado, uma substituição decisiva, uma bola na trave... São muitas as hipóteses que movem os sentimentos. Mais interessante - e perigoso - ainda é quando as hipóteses futebolísticas ultrapassam a barreira esportiva e passa a ser políticas.
Recentemente, a independência da Catalunha voltou a ser pedida por parte da população da região - incluindo os políticos. Uma das manifestações mais fortes aconteceu na capital Barcelona, no clássico Barcelona 2x2 Real Madrid, quando no minuto 17:14 os torcedores blaugranas gritaram por independência, fazendo alusão ao ano em que a Catalunha foi conquistada pela Espanha. Saindo do mérito político, para não ter que discutir se a separação seria boa ou ruim para ambas as partes, imaginemos se a Catalunha se separasse e como ficaria uma possível seleção catalã.
O que pouca gente sabe é que essa seleção já existe e inclusive é comandada pelo mito Johan Cruyff, mas, por não ser reconhecida oficialmente pela FIFA, por não ser uma nação, só pode jogar partidas amistosas, como no jogo contra o Brasil, em 2004, quando foi goleada por 5 a 2, com show de Ronaldo. Na partida contra a seleção brasileira, o técnico Pichi Alonso levou a campo Valdés; Curro Torres, Lopo, Alvarez e Capdevila; Guardiola, Sergi, Roger e Iniesta; Jordi Cruyff e Sergio Garcia. Uma seleção fraca, mas que hoje em dia seria muito diferente. Levando em conta jogadores nascidos na região seria possível montar uma seleção baseada no Barcelona, que atualmente tem uma das melhores equipes da história. Num 11 titular poderiam estar Valdés; Montoya, Puyol, Piqué, Jordi Alba; Busquets, Xavi, Fàbregas; Deulofeu, Bojan, Cuenca. Dos 11 titulares, 10 atuam no Barcelona e o outro, Bojan, foi formado lá trocou o Barça pela Roma, em 2011.
Apesar da falta de opções ofensivas, 7 dos atuais 11 titulares da seleção da Espanha - considerando Puyol titular na Roja -, poderiam formar uma seleção da Catalunha. Destes, apenas Jordi Alba não foi campeão do mundo em 2010, mas participou ativamente da conquista do bicampeonato da Euro na Polônia e Ucrânia, em julho. Um fato curioso é que apesar de não ser proveniente da região, Iniesta, um dos melhores jogadores da atualidade, já disputou amistosos pela seleção catalã, o que poderia facilitar a sua convocação, aumentando o número de campeões mundiais no elenco catalão para 7.
Outra região que se manifesta bastante sobre uma possível separação é a região do País Basco, que tem como capital a cidade de Bilbao, que abriga um dos times de mais sucesso e história no futebol espanhol, o Athletic Bilbao. Conhecido por aceitar apenas jogadores nascidos na região do país Basco ou com parentes nascidos na região, o clube seria uma base para uma possível seleção basca, que, assim como a seleção catalã, existe há quase cem anos - a seleção catalã, inclusive, completa cem anos em 2012.
Assim como a Catalunha, o País Basco tem, historicamente, uma série de conflitos com Madrid - os mais sábios podem até lembrar de Guernica - e que ajudam a aumentar esse desejo de separação existente na população local. Novamente não entrando no mérito político, somente esportivo, uma seleção basca teria uma média de idade baixíssima, devido a quantidade - e qualidade - de jogadores revelados por ano no Athletic, o que só confirma o poder de Lezama. Levando em conta jogadores que nasceram na região e excluindo o bom zagueiro Fernando Amorebieta, que nasceu na Venezuela - e atua pela viñotinto - mas tem país bascos, por isso atua no Bilbao, poderíamos montar uma seleção basca com: Iraizoz; Iraola, Javi Martinez, Inigo Martinez, Nacho Monreal; Xabi Alonso, Arteta, Ander Herrera; Susaeta, Llorente, Muniain. E podendo contar ainda com jogadores do nível de De Marcos, Beñat, Raul García, Xabi Prieto e Azilicueta no banco. Um bom elenco, o que faltaria para a seleção catalã. Mas se formos analisar só o time titular, a Catalunha levaria vantagem, por contar com jogadores do porte de Xavi e Fàbregas no meio campo, mesmo faltando um basco como Fernando Llorente na hora de botar a bola na rede.
Réfem de tudo isso, a seleção espanhola perderia em número e (muita) qualidade, já que perderia praticamente todo o seu time titular. Uma formação com Casillas, Juanfran, Sérgio Ramos, Raúl Albiol, Arbeloa; David Silva, Cazorla, Iniesta; Mata, Fernando Torres, David Villa só provaria que, hoje, não há - e quiçá não houve - nenhuma seleção no mundo com tamanha fartura de ótimos e talentosos jogadores.